sábado, 17 de abril de 2010

Os cabelos dele cheiravam a maçãs frescas. Eu nunca me esqueci. Talvez tenha sido o único detalhe que a minha memória guardou. Os demais, se foram, como a imagem do sorriso dele, o som da voz, o exato tom dos olhos.
Os esqueletos das lembranças, agora empoeirados e guardados na última prateleira, aquela mais alta, mais inacessível, mais longe - aquelas mesmas que eu jurei jamais remexer - jazem, somente esqueletos, somente poeira.
Eu sinto falta de tudo o que não tive tempo de dizer, sinto falta de saber que ele se casaria com uma moça linda e que teria os filhos mais fofos do mundo, e se tornaria um jovem senhor e depois um respeitável senhor e depois... e depois...
A dor não passa, as lembranças sim, mas a dor? Ah não, a dor há de ficar, para que eu não me esqueça nunca que os cabelos dele cheiravam a maçãs frescas...

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